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Author: rupereta servindo sempre


Seria Jesus um fundamentalista?

 

 Bertha Broadmind percebe Sócrates andando, de modo confuso, de um lado a outro durante o processo de matrícula na Escola de Teologia Havalarde. Sócrates parece meio perdido, então Bertha abre caminho em meio à multidão e o alcança.



Bertha: Já terminou de fazer a matrícula, Sócrates?

Sócrates: Acho que sim. Meu cartão de identificação já está com os meus cursos listados, portanto deduzi que seja quem for que providenciou para que eu estivesse aqui também o fez para os meus cursos. Ainda não tenho idéia de quem seja. Pelo jeito, só um deus poderia influenciar pessoas em um momento como este, assim o melhor que tenho a fazer é seguir a sua direção, seja quem for. E provável que eu tenha sido enviado para cá a fim de descobrir algo; ou, quem sabe, descobrir quem sou eu ou as duas coisas. De algum modo, essas duas questões parecem interligar-se de modo inexplicável.
Bertha: Deixe-me ver em que cursos você está matriculado, Sócrates. Hum... Ciências da Religião, Religiões Comparadas, Fundamentos da Desmistificação... Que bom! Faremos alguns cursos juntos.
Sócrates: O que, pelo amor de Deus, é "desmistificação"?
Bertha: E uma saída para o fundamentalismo. Os fundamentos da desmistificação pretendem desmitificar o fundamentalismo.
Sócrates: Mas o que é fundamentalismo?
Bertha: Fundamentalismo é basicamente uma estreiteza de visão que passa a considerar tudo a partir de categorias rígidas, limitadas e preconcebidas.
Sócrates: E uma daquelas máquinas pensantes que vocês têm os computadores? Então um computador é um fundamentalista?
Bertha: Oh, acho que preciso tornar a minha definição um pouco mais específica.
Sócrates: Quer dizer que um pensamento limitado transforma a pessoa em fundamentalista?
Bertha: Não sei se levo você a sério ou não. Não, o fundamentalismo não significa apenas ter um pensamento limitado, mas é um termo religioso. Um fundamentalista obriga a tudo e a todos a aceitarem suas categorias religiosas limitadas e insuficientes.
Sócrates: Que categorias são essas?
Bertha: A salvação e a condenação, principalmente. O discurso deles é que, se você não nascer de novo como eles, irá para o inferno.
Sócrates: A meu ver, esta idéia, independentemente do que signifique, é repulsiva para você. É isso mesmo?
Bertha: É claro que é. É a atitude mais anticristã.
Sócrates: O que é ser cristão? Pelo que percebo você é cristã?
Bertha: Estou tendo aulas de Estudos Religiosos aqui.
Sócrates: Não foi esta a minha pergunta!
Bertha: É possível até que eu seja ordenada como obreira.
Sócrates: Você ainda não respondeu à minha pergunta.
Bertha: Tudo bem. Só não posso acreditar que, se você não nascer de novo, irá para o inferno.
Sócrates: Acho que você não quer responder a minha pergunta. Bem, vamos tentar outra. Suponho que você tenha razões para acreditar e não acreditar, não tem?
Bertha: Claro.
Sócrates: Então?
Bertha: O que quer dizer com então? Ah, entendo. Você quer saber por que não acredito no fundamentalismo. Ora, porque é uma limitação maldita.
Sócrates: Achei que você disse que eles se consideravam os salvos e, por isso, a atitude deles era mesquinha demais. Assim, seriam "salvos egoístas" e não "condenados egoístas", não seriam?
Bertha: Hein?
Sócrates: Por favor, só me diga por que acredita que o fundamentalismo não é verdade?
Bertha: Oh, bem, porque, se fosse, a maioria do mundo estaria no inferno, e só uma elite reduzida e seleta estaria no céu.
Sócrates: Sim, mas como sabe isso?
Bertha: Ora, porque é a lógica, claro. Você não percebe?
Sócrates: Perceberia, se eu observasse. Vamos observar. Essa conclusão é fruto de que premissa?
Bertha: E tão simples Sócrates. Se só os nascidos de novo estão salvos e apenas alguns nasceram de novo, logo, somente alguns estão salvos. Você não parte sempre da lógica?
Sócrates: Partir dela? Eu a dei ao mundo.
Bertha: Oh, desculpe. Esqueci.
Sócrates: Certo, mas vamos observar o seu silogismo, se você não se importa. Certamente ele parece irrepreensível, mas eu gostaria de tangenciar o irrepreensível, se possível. O seu argumento realmente é reductio ad absurdurn, como se diz. Você nega a premissa fundamentalista de que só os nascidos de novo estão salvos porque ela logicamente impõe a conclusão absurda de que apenas alguns estão salvos. Não está certo?
Bertha: Sim.
Sócrates: Então, a minha pergunta é: como sabe que a conclusão é absurda?
Bertha: E você não acha que seja?
Sócrates: Não estamos considerando o que eu penso, mas o que você pensa. Eu não sei nada sobre essa coisa nova e estranha chamada fundamentalismo, mas você sabe. Você está me ensinando, lembra? Assim, por favor, faça isso por mim e continue me ensinando.
Bertha: O que quer saber?
Sócrates: O que já perguntei duas vezes e não foi respondido, ou seja: como sabe que a conclusão de que só alguns estão salvos é falsa?
Bertha: Não posso acreditar nisso, simplesmente; isso é tudo. E um absurdo.
Sócrates: Vocês não têm justificativa alguma para essa crença?
Bertha: Será que preciso justificar tudo em que acredito?
Sócrates: Se concorda que a vida sem questionamento não vale a pena ser vivida, então precisa realmente justificar. "Estejam sempre preparados para responder a qualquer pessoa que lhes pedir a razão da esperança que há em vocês."
Bertha: Bem que eu vi! Você acabou de revelar o seu disfarce, "Sócrates". De onde tirou essa citação?
Sócrates: Sobre ávida sem questionamento? Ora, eu a inventei há milhares de anos, em minha canção do cisne, na Apologia. Eu sei que ainda está por aí porque acabei de ver uma cópia naquela estante lá. O que quer dizer com "acabou de revelar o seu disfarce"?
Bertha: Refiro-me à outra citação, sobre dar uma justificativa a tudo; é bíblico. Quando foi que leu a Bíblia?
Sócrates: Eu não a li. E o que eu disse não era citação; só falei porque pensava ser verdade.
Bertha: Significa que você disse exatamente a mesma coisa que o apóstolo Paulo?
Sócrates: Eu não sei quem é ele, mas não seria bastante surpreendente se a verdade fosse a mesma na forma de dizer de duas pessoas diferentes?
Bertha: Eu diria que você é quase tão inteligente quanto ele. Veja bem, se você já terminou tudo referente à matrícula, é melhor darmos isso por encerrado! Vejo você na aula.
Sócrates: Eu não entendo por que você não quer terminar a nossa investigação. Nós só começamos. E como ouvir uma canção pela metade; você não quer ficar e cantar a outra metade para mim, por mim, se não for por você? Eu ainda não tenho sequer uma idéia do que realmente seja essa coisa terrível chamada fundamentalismo.
Bertha: Certo, tudo bem. Onde estávamos?
Sócrates: O argumento era que o fundamentalismo deve ser falso porque diz que somente os nascidos de novo são salvos e se somente alguns são nascidos de novo, então apenas alguns serão salvos, caso o fundamentalismo esteja certo. Mas você achou esta conclusão absurda, sem dar nenhuma razão para isso. Agora, já que você não vai apresentar uma razão para isso, vou tentar outra abertura na câmara interna do entendimento que está ligada a esse argumento. A segunda premissa pode ser uma porta. Podemos discutir se você quiser. Como sabe que só alguns são nascidos de novo, independentemente do que isso signifique?
Bertha: As pesquisas todas dizem isso.
Sócrates: Essa coisa de nascer de novo, se dá por dentro ou por fora de nós?
Bertha: Por dentro de nós; isto é, no coração ou na alma.
Sócrates: E as pesquisas avaliam o coração ou a alma?
Bertha: Não.
Sócrates: Então como podem saber quantos realmente nasceram de novo?
Bertha: Eles não podem, eu acho. Mas ainda discordo da estreiteza dos fundamentalistas. Este é o princípio básico. Quem eles pensam que são para dizer que vão para o céu?
Sócrates: Esta parece ser uma pergunta extremamente importante, em qualquer caso, não parece? Como ir para o céu? Como ter uma eternidade feliz?
Bertha: Sim...
Sócrates: Por isso, devemos tentar encontrar a verdadeira resposta para isto, talvez antes de todas as outras.
Bertha: Agora você está começando a falar como um deles.
Sócrates: Se é isto que significa eles — isto é, as pessoas que fizeram aquela pergunta — então parece que elas são racionais; já os que não a fizeram são tolos e limitados.
Bertha: Não. Vamos fazer a pergunta. Eu sou tolerante; por isso, admitiria qualquer pergunta.

Sócrates: Que bom. Ora, como poderíamos encontrar a resposta a uma pergunta desse tipo? Você já esteve no céu?
Bertha: E óbvio que não.
Sócrates: Quer dizer que isso ainda não faz parte da sua experiência?
Bertha: Não.
Sócrates: Quando queremos descobrir a verdade sobre uma questão que não faz parte de nossa experiência, o que fazemos?
Bertha: Não sei o que você quer dizer.
Sócrates: Quando queremos descobrir o que se sente quando se é rico, o que fazemos?
Bertha: Perguntamos a alguém que é rico, é lógico.
Sócrates: E não a seus colegas estudantes daqui?
Bertha: Não.
Sócrates: E quando queremos descobrir como se faz um grande poema, o que fazemos?
Bertha: Perguntamos a um grande poeta.
Sócrates: E não a este New Yuck Times que tenho debaixo do braço?
Bertha: Não, porque isso não é poesia.
Sócrates: E quando queremos descobrir como viajar pelo Egito, a quem perguntamos?
Bertha: A um egípcio.
Sócrates: E não às pesquisas?
Bertha: Não, seria tolice. Por que está fazendo estas perguntas?
Sócrates: Para encontrar um princípio. Você entende isso?
Bertha: Imagino que você queira dizer que, quando queremos conhecer a verdade sobre algo que não faça parte de nossa experiência, perguntamos a um especialista, o único que realmente conhece por experiência.
Sócrates: Exatamente. Bem, então, quando você quiser saber como ir para céu, há alguém a quem perguntar?
Bertha: Não sei.
Sócrates: Que pena! Que tema você disse que estuda aqui?
Bertha: Cristianismo.
Sócrates: E o que é isso?
Bertha: Cristianismo é a nossa religião.
Sócrates: Por que é chamado "cristianismo"?
Bertha: Porque fundamenta-se em Jesus, que é também chamado "Cristo".
Sócrates: Este Jesus, você diria que ele foi um fundamentalista?
Bertha: Certamente não!
Sócrates: Ele é o seu especialista em céu e em como chegar lá?
Bertha: Se existe alguém que pode ser, esse alguém é ele.
Sócrates: Mais que as pesquisas, o Times ou os seus colegas estudantes?
Bertha: Com certeza.
Sócrates: Assim, se houvesse diferença de opinião sobre esse assunto, Jesus seria a autoridade mais confiável?
Bertha: Bem, sim...
Sócrates: Ora, qual a resposta de Jesus para a nossa pergunta de como chegar ao céu?
Bertha: Oh, mas essa é uma questão muito controversa. Há muitas escolas teológicas cujas opiniões são diferentes, denominações e igrejas diferentes e não há sequer uma simples resposta com a qual todos concordem. E uma questão de interpretação; por isso, acredito que deveríamos ser tão imparciais e tolerantes quanto possível: liberdade de interpretação, é nisso que insisto. O que Jesus quis dizer está longe de ser simples, e cada um precisa interpretá-lo a própria maneira.
Sócrates: Oh, então esse Jesus não era um homem comum, um homem do povo, que falava com pessoas simples e para elas?
Bertha: Sim, era o que ele mais fazia.
Sócrates: Então ele não era um bom professor?
Bertha: Sim, era também. Por que a pergunta?
Sócrates: Um bom professor é aquele que verdadeiramente sabe se comunicar, você não diria? Alguém que se faça entender?
Bertha: Sim.
Sócrates: Bem, aparentemente, esse tal Jesus não era um professor muito eficiente, já que os discípulos dele, da atualidade, discordam tanto sobre o elemento mais importante da sua doutrina: como ir para o céu.
Bertha: Como eu disse, é uma questão de interpretação.
Sócrates: Mas certamente há uma questão anterior: o que ele disse? Antes de interpretarmos um enunciado, devemos conhecê-lo. Diga-me, então: Jesus falou que havia muitas maneiras de chegar ao céu ou só uma? Falou que essa maneira era uma entre muitas ou a única?
Bertha: Ah! Bem, ele disse: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, a não ser por mim". Mas o que ele quis dizer com isto, eu acho que era...
Sócrates: Será que inicialmente podemos entender o que ele disse, antes de investigarmos o que ele pôde ter tido a intenção de dizer?
Bertha: Que vantagem teríamos se não entendêssemos? Por que repetir as suas palavras como papagaios, se não sabemos interpretá-las corretamente? E assim que os fundamentalistas fazem.
Sócrates: Diga-me, você acha que devíamos agir cientificamente por meio de nossas atitudes, diante de sua Escritura?
Bertha: Oh, com certeza, porque são os fundamentalistas que não agem com cientificidade, além de desconfiarem da ciência, principalmente quando aplicadas à Escritura. Por que temos de ouvir as coisas horríveis que dizem sobre a crítica superior...
Sócrates: Uma coisa de cada vez, por favor. Não estamos nem mesmo acima da baixa crítica ainda, apenas agrupando dados. Podemos abordar os dados mais à frente? Esse tal Jesus disse que o caminho para o céu era largo e fácil, e que muitos o encontrariam?
Bertha: Na verdade, ele disse o contrário. Mas isso não quer dizer que...
Sócrates: Desculpe-me por interrompê-la outra vez, mas podemos reunir os nossos dados primeiro, antes de interpretá-los? Talvez você esteja prestes a falar alguma verdade, mesmo uma verdade essencial; entretanto, a verdade também tem uma estrutura e uma ordem, não tem? Não deveríamos conhecer a coisa interpretada antes de conhecermos a interpretação?
Bertha: Exato.
Sócrates: Agora, Jesus falou da questão defendida pelos fundamentalistas, isto é, de nascer de novo?
Bertha: Sim.
Sócrates: O que exatamente ele disse sobre isso, no que se refere a entrar no céu?
Bertha: Bem, ele disse: "Ninguém pode ver o Reino de Deus, se não nascer de novo".
Sócrates: Entendo, eu acho. Este "ver" aqui significa "entrar"?
Bertha: Acho que sim.
Sócrates: E "o Reino de Deus" é a mesma coisa que céu?
Bertha: Também imagino que sim.
Sócrates: Então Jesus e os fundamentalistas parecem dizer a mesma coisa com referência a esta pergunta mais importante. Você aparentemente não concorda com nenhuma delas. O que você diz, em vez disso?
Bertha: Eu digo que todo aquele que é sincero é aceito por Deus. O meu Deus não é um juiz, um discriminador.
Sócrates: E Jesus? O Deus no qual ele acredita é juiz? Ele faz discriminação entre salvos e condenados, de acordo com as doutrinas de Jesus?
Bertha: Bem, Jesus contou muitas parábolas sobre o Julgamento Final, sim, mas... mas não tem como Jesus ter sido um fundamentalista. Isso é certo!
Sócrates: Esta parece ser a sua premissa inquestionável e incontestável. Tudo bem, então, vamos resumir a questão toda. Parece que temos três proposições aqui, e uma delas, ao menos, deve ser falsa. Primeira, que Jesus não é um fundamentalista; segunda, que Jesus ensinou que é preciso nascer de novo para ir ao céu; e terceira, que o fundamentalismo é a doutrina que prega a necessidade de um novo nascimento para se poder ir ao céu. Você consegue perceber que uma dessas proposições deve ser falsa?
Bertha: Sim.
Sócrates: Agora, qual delas? Há três saídas deste trilema: a sua, a que parece ser a dos fundamentalistas e a minha.
Bertha: Quais são elas?
Sócrates: Eis a sua saída, se não estou enganado: você admite, primeiro, que Jesus possivelmente não pode ser um fundamentalista...
Bertha: Sim...
Sócrates: Em segundo lugar, você disse que o fundamentalismo ensina que é preciso nascer de novo para ir ao céu.
Bertha: Sim.
Sócrates: Assim, a sua conclusão deve ser a negação de que Jesus ensinou esta doutrina.
Bertha: Na verdade, você está certo. Eu realmente questiono a autenticidade do Quarto Evangelho.
Sócrates: Eu não vou perguntar o que significa isso neste exato momento. A segunda saída do trilema é a dos fundamentalista, se não estou enganado. Isto é, admitir, primeiro, que Jesus de fato ensinou a doutrina de que é preciso nascer de novo para ir ao céu; e, segundo, que essa doutrina é o fundamentalismo, daí a conclusão de que Jesus é um fundamentalista.
Bertha: Certo. Qual é a terceira saída, a sua?
Sócrates: Eu não tenho razão alguma para discordar, seja das minhas duas fontes, seja de você mesma, seja da sua Escritura, já que não tenho a pretensão de conhecer mais que você ou mais que eles. Então, aceito a minha primeira premissa que é sua, que Jesus não é um fundamentalista; a minha segunda premissa é a da sua Escritura, que diz que Jesus ensinou a doutrina do "novo nascimento"; portanto, concluo que a doutrina do "novo nascimento" não é a mesma do fundamentalismo. Desse modo, parece que não fomos bem-sucedidos em definir o termo que nos propusemos a definir.
Bertha: Eh!
Sócrates: Por favor, você gostaria, então, de começar novamente e fazer uma tentativa de definir o termo para mim?
Bertha: Não.
Sócrates: Não?
Bertha: Não, eu não estou disposta a ter uma dor de cabeça, e sinto que uma se aproxima. Vou para casa tomar uma aspirina, pois você deixou minha cabeça rodando como um pião.
Sócrates: Meu Deus, a mesma e velha história. Outra vez estou decepcionado de amor.
Bertha (Aguçando os ouvidos.): Amor?
Sócrates: O amor à sabedoria: a filosofia. Você deveria experimentá-la uma vez. Pode funcionar melhor que a aspirina. Mas prepare-se para decepções, pois acho que você não está. A coisa amada é muito ilusória. Entretanto, assim é o Deus, como sempre acreditei. Espero estar aqui para aprender mais sobre a busca desse Deus secreto.
Bertha: De algum modo, me sinto ofendida.
Sócrates: Eu estava tentando ajudar a nós dois.
Bertha: Bem, você não me ajudou. Minhas idéias estavam evoluindo muito bem até que você se aproximou e me confundiu. Você me faz regredir mais do que evoluir.
Sócrates: Ora, a regressão pode significar progresso.
Bertha: Como pode ser?
Sócrates: Quando estamos em um caminho errado. E não há tantos caminhos errados na mente quantos forem os caminhos errados para o corpo, no mundo?
Bertha: Mas para onde você se volta quando fica perplexo?
Sócrates: Se posso dar uma sugestão: não seria uma boa idéia se você voltasse a consultar o seu especialista?
Bertha: Jesus, você quer dizer?
Sócrates: Sim, estou interessado em saber mais sobre ele, se ele, de fato, é o especialista. Não seria possível que ele estivesse certo sobre o caminho do céu em vez das pesquisas, do Times ou de seus colegas de aula? É apenas uma suposição, você entende, mas parece racional, ao menos, considerá-la, não parece? Pelo menos se você é tão tolerante quanto afirma ser?
Bertha: Em outro momento, Sócrates.
Sócrates: Vou ter que aceitar seu adiamento, então, Bertha. Só espero que terminemos nosso jogo realmente sério algum tempo antes que eu seja afastado daqui, para o meu próprio bem, e algum tempo antes que você saia daqui, para o seu próprio bem.
Bertha: Sair daqui?

Sócrates: Para onde os nossos caminhos nos levam após a morte, eu não sei. Pensei que soubesse onde o meu me levaria, mas acabou que eu estava bem errado. Espero que isso não aconteça com você ou algo até pior. Antes de nos arriscarmos em um caminho desconhecido, seria prudente apenas consultar um mapa, e, se esse Jesus de quem você fala declara que oferece esse mapa, eu quero muito vê-lo. Poderia-me falar mais sobre ele, em breve?
Bertha: Talvez amanhã, Sócrates.

Autor: PETER KREEFT - 
Extraido do livro: Sócrates e Jesus, o debate - Ed.Vida.


Andrézinho rupereta

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